domingo, 1 de julho de 2012


E o nenê nasceu...


Fico abismada como as pessoas gostam de romancear o nascimento de uma criança. Sim, todos gostam de falar de amor. Alguém diz: "Uma mãe nasceu..."  Outra 'complementa': "Sua vida nunca mais será a mesma", com tom de ternura. Não mesmo, mas pode tirar esse tom. 

Tudo isso é verdade. Mas vamos para realidade. Calma, minhas romancistas de plantão. A realidade é muito melhor e divertida que o conto de fadas... E vamos lá... Ainda no hospital, mal a nova mãe chega da sala de parto e começam as visitas... Muitas visitas, todas eufóricas para saber do bebê - peso, medida. Como foi no parto. Doeu? Normal ou cesária? E a coitada da parturiente ainda nem sente as pernas devido a anestesia. "Não pode falar muito", diz a tia-avó 'entendida' no assunto. E a new mother quer ver o bebê. Ainda meio zonza, começa sentir gases que devem ser eliminados. Mas o quarto está cheio. Não seria de bom tom eliminá-los na frente dos outros. Então, segura. E os pontos começam a dar o ar da graça. Ufa, o bebê chegou para mamar pela primeira vez. Alguém de bom senso pede para todos saírem do quarto, já que a mãe precisa aprender a dar o peito. Aproveita e já distribui a lembrançinha para ver se o pessoal 'sem noção' vai embora. Envolvida pela adrenalina do nascimento, coloca o bebê no seio. Sim, ela quer amamentá-lo exclusivo com leite materno até quando der. O bebê gruda como se fosse uma ventosa e começa a dor. Se for menino, a dor é duas vezes maior. Já nascem com fome. Logo, ela lembra dos comerciais de aleitamento materno. Quem fez aquilo? Pensa. Só pode ser um homem que não tem noção da dor que é isso. E racha o peito, sangra. A mãe chora. Muitos palpites de todos para melhorar. Algumas continuam outras param de amamentar. E todas merecem o mesmo respeito. Já que a dor para algumas é insuportável. E continua... " O bebê nem chora, é muito calmo" diz a mãe para as visitas. Principalmente, se o mesmo fica no berçário. Querida, o bebê só chora quando sai da maternidade. Acho que eles colocam o 'chip do choro' e mandam para casa. Algumas mães descobrem na primeira noite que quer ficar com bebê no quarto. Rápido, acha melhor chamar a enfermeira para, enfim, descansar. E, a cada três horas, o 'alarme' chega... E vamo que vamo... Tudo novo... O coitado do pai numa caminha que até o bercinho do bebê é muito mais confortável. Tendo que aprender a lidar com tudo aquilo.

Chega o dia de levar o bebê para o lar doce lar. Alguma coisa vermelha para dar sorte. Chegamos em casa. Primeiro choro. Começa a 'checagem' - fralda suja - a primeira é inesquecível... "Será que apertei demais?". A primeira dúvida. E segue... Roupa molhada? E nada da criança parar. Decidem dar banho para relaxar. Parece uma maratona - temperatura da água - com termômetro, claro... D'us me livre queimar a criança... Uns fizeram cursinho e já 'sabem tudo', mas lembram que o bebê onde aprenderam as lições era um boneco, que não se mexia. Marido do lado... Que nessas horas já virou uma boa empregada, psicólogo, pai, mãe, irmão e santo. O banho parece uma maratona que quando termina todos estão exaustos. Mas não pode parar... Afinal tem que limpar o umbigo, dar de mamar - algumas têm que dar complemento já que o leite do peito não é suficiente- e sente-se culpada. Senti isso na pele. Perguntava-me por que não era capaz de produzir o leite suficiente para meu bebê... Não sei o motivo... Mas acredito em histórias que nem sempre podemos entender. Mas logo vi que a mamadeira pode ser ótimo também. E não era menos mãe por isso. Enquanto todas tinham que arranjar um cantinho para dar o peito - quando saiam de casa - eu podia estar em todos os lugares com a minha mamadeira. E também era uma forma do pai - babão 'amamentar'. E continuamos... Colocar para dormir - se dormir, etc e tal... No meio a tudo isso o emocional da mulher. Uma verdadeira montanha-russa que oscila entre risos e choros. Absolutamente normal, mas que ninguém fala. Que pecado. Quanta falta de respeito, já que a maioria dos livros se preocupam com a gestação - o que comer, vitaminas, parto e saúde do bebê. Mas esquecem muitas vezes de falar do emocional da mãe. Se ela não tiver bem, difícil do bebê ficar... Tudo nela mudou... corpo, relação com marido, vida. A adaptação é com todos ao redor e, principalmente, com ela mesma. A cabeça dela fica uma meleca... "Será que vou dar conta? Será que realmente tenho esse instinto materno?". Sim, mas tudo precisa de tempo e adaptação algo difícil de uma mãe de primeira viagem entender, já que quer acertar de primeira. Algumas não têm paciência de esperar e entregam o 'cargo maternal' para a babá. Nada contra uma babá, mas saiba que ela não tem a obrigação de ser mãe do seu filho. Ela é uma ajudadora e deve ser tratada e respeitada como tal. E o amor? Quando brota? Ninguém ama a barriga - me desculpe as grávidas... Vocês entenderão...Temos instinto animal quando estamos grávidas... De proteção, zelo e podemos confundi-lo com amor... Mas quando nasce e você pega aquele ser, você entende o que é isso. Algumas demoram algum tempo. E isso é normal. Mas tenho certeza que chegará um dia que olhará para aquela 'coisinha' que muitas vezes te deixa doida de madrugada e pensará: "Como pude viver sem ele/ela durante toda minha vida?

Sim, a vida com o bebê não é nada fácil. Digo a adaptação. Calma, cautela e tempo na relação são necessárias. Não digo tempo de uma forma negativa. Mas entender que também 'nasceu' um pai e todos precisam se re-arranjar. Entendo até quem não aguenta e se separa... Mas quando entendido e bem administrado, tudo acaba bem... E isso é ótimo! Saldos no final: nova intimidade, novos sentimentos, bagunça de brinquedos esparramados pelo chão, novos sabores - ainda que de sopa, cheiro de bebê - e isso vai se transformando com o tempo - o primeiro feijão ninguém esquece, limites, novos hábitos... E uma NOVA família, sólida. Que precisará de ajustes ao longo da vida. O bebê vira criança, que vira adolescentes ou aborrecente, adulto. Com todas preocupações de cada fase... Mas acredito que cada bebê que nasce trás algo a mais. Sim, além de todo o 'pacotão' já visto acima... Como se fosse um presente exclusivo para você. Novos despertares acontecem dentro da nova mãe e do pai. E que devem ser desenvolvidos. Parece que trouxe um embrulho junto com ele. Mas muitos de nós, nunca abrem ou desenvolvem. Que pena. Aqueles que 'abrem' realmente se transformam. Entendem um pouco do amor divino, do amor pelo próximo, por si mesmo e pela vida. Entendem que apesar de todo esse trabalho. Cada segundo é recompensado por viver esse amor enlouquecedor... O de ser Mãe!!! E o de ser Pai!!!!


1 comentário: